quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

Trecho de algo a mais a escrever

(Parte Única – As abstrações que serão guardadas na memória)

Nestas províncias até as máquinas são abusadas, mas não pela exaustão, antes pelas crenças que os valores deste lugar hão de construir algo, mas não vão além do que sempre se crê, do que é dado como certo e assim sempre será - talvez venha daí a religiosidade desta cidade. Não poderia lhe encaixar tão bem algo tão medieval. Medievalmente positivista, sempre uma coisa de cada vez, sempre ligado a um caminho para o sucesso, o positivo, o acrescentar incessante, acrescentando somente as coisas valorosas para o próximo movimento de extrema utilidade para o sucesso.
E se tudo isso for ideológico, devo dizer que é o mais fracassado dos sistemas. E tudo aqui seria tão carregado de malditos símbolos forjados no provincianismo paulista.

Quando escrevo é como se a última herança deste mundo estivesse se desfazendo, um mundo que finalmente se esvai e agora estamos todos bem para viver, agora temos outros sentidos para descobrir novos significados onde símbolo algum nos denegrirá. Mas aí olho em volta e tudo volta a ser extenuante pois nada mudou, mas há algo que já não é mais em mim, algo que está para ser quando ando nas ruas noturnas. Preciso sair daqui, doar todo para a caridade, tudo o que eu preciso é um tostão por dia.

E as horas da madrugada esvaem-se, ao tocar do relógio desesperadamente calmo, pois nem ele agüenta ser tão abusado pelo cotidiano; justo ele, que tem o tempo em seus braços.

quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

Por quanto tempo a cidade será moribunda?

O cara mais velho da cidade finalmente foi deixado por toda a família
Morgando sozinho em casa não era um bom negócio
Ele saiu errante pelas ruas, passando os dias por elas
Descansado o corpo na calçada
Como se fosse pedinte sem esmola, uma mente livre na real
Mas as pessoas apressadas nunca pensaram o mesmo
Nenhum jamais sentou ao seu lado com um trago convidativo a compartilhar
Só umas moedas eram jogadas ao seu lado

“Que diabos há com as ruas? Ninguém passa dias, nem mesmo uma única noite aqui fora!
Eu sou aquele que a morte quer, mas parece que sou eterno e a cidade à tempos é um cadáver abandonado.
Meu caro veja estas moedas, são mais velhas que meu espírito, porque a cada dia levanto novo!
Mas ninguém está aqui para diversão!”

Grande razão tem as palavras do velho!
A cidade está morta!
À noite só temos álcool e cigarros
Às vezes é tão solitário mesmo com amigos
Acaso quem não está só de passagem ao nosso lado?
Muitos só estão voltando para descansar
Mas não é o aconchego do lar que faz o homem tão débil?
Vejo que não estão a descansar
Estão a morrerem em suas casas para serem zumbis do trabalho

Você observa aquele homem atravessando tantos lugares na cidade
Ela não está nem um pouco velho, e ainda está livre, uma benção da idade
O mais velho torno-se livre!
Ouçam seus dizeres! Vamos ouvi-lo e à noite viver sua sabedoria!

Ei, meu caro amigo
O que vocês farão sobre estes dias?
Eles não são obscuros, a humanidade não está perdida
Nós não vemos o amor em muitos lugares, é verdade
Mas não tem churumela pra fugir
Garotos e garotas! Garotas sem garotos! Garotos com garotos e garotas com garotas! A cidade é de vocês!

“Ninguém deve culpar o amor por ele correr livremente em nossas ruas
Venham logo! Caiam fora de seus lamentáveis quartos e façam amor em todo lugar!
É! Todos devem fazer! Toda a cidade deve suspirar toda hora de toda noite!”

terça-feira, 10 de agosto de 2010

Alegoria das famílias & algozes

Maldito seja o establishment da família linda
Que não passa de uma pedra carregada ao topo do morro da hipocrisia
Pra rolar abaixo e cair sobre a alma daqueles que a denunciam como fábula
Os terríveis algozes sem piedade
Que de sábia atitude não sobem o maldito monte

domingo, 8 de agosto de 2010

Sweet Tragedy of Modern Relationship (Yes, I love you)

Part One – It Begins (At Home)

The sweet tragedy of modern relationship begins on a Sunday afternoon, a lonesome moment by the way, even inside an undeniable friendly heart. Sat down in the dawn for a smoke, a modest toast to the silence. No good night, nor good trip, no one to be by the side. Therefore comes the evening; it can’t be a good one watch TV, matter of fact it’s always the worst occasion to do so, with or without someone. It’s also true that going to movies alone was never charming, but a fine doing when truly young – actually not thinkable nowadays. What could possibly be another company? Love still floating around the bedroom, but won’t find coziness in the middle of two unclothed bodies. Opening the window won’t make it leave; furthermore the door is the portico to welcome no more than loneliness. Indeed, the home is the love keeper.

sexta-feira, 30 de abril de 2010

Revisitando o fim da infância (sei que todos lembram muito bem dela)

Prólogo ao Fim da Infância (uma apresentação geral em forma de poema)

No fim da infância era tudo mais simples,
todos já sabiam que havia um mundo a encarar, regras que haveriam de ser seguidas,
noites sendo vividas à luz e à sombra, havia entorpecentes e prazeres fartos
e tantos deuses encarnados e somente um para não crer em fé
assim, não havia quem dissesse o que ser feito
e a liberdade era tão primitiva...



Sobre as mentiras (ouvidas na infância): A voz do cão sob este sistema de Babilônia

Sobre o relógio nosso de cada dia

Não, meu filho. O dia não tem 24 horas. E aquele seriado também não. Medir a natureza com instrumentação tão abstrata nunca revela verdade alguma: são só as leis humanas sobre uma idealização cotidiana, para fim de sustentá-la em sua árdua tarefa do trabalho – haja vista que é ilusão e o rico só sua quando corre no seu cúper. Nos fins, para deixar entendido, fica esclarecido que só a natureza sabe quanto tempo tem, terá e teve; então eu também não sei quantas horas tem o dia, mas sei que horas são.

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

Há beleza nisso? E a eternidade?

Estas flores mudaram
elas não agüentariam mais que uma eternidade
Novas não nasceram
as substitutas são a novidade

Personagens roncam feito motor
arrastam-se como asfalto
diante desta beleza todos se fazem nada

São o clímax efêmero do ápice da futilidade
enfiadas em tubos translúcidos
para admiradores do fim da natureza
estes tais masturbadores fotográficos
guardam a beleza que vai embora

Tudo vira quadro, arte e memória
Não há ordem nisso
Há flores por aí a nunca serem ouvidas
mas cumprem o destino fadado a elas
seja humano ou seja coisa