sábado, 25 de fevereiro de 2012

A retidão e o estreito

Houve vitórias, claro que sim, é uma obviedade! Todos bem sabem das glórias.
E as derrotas? Não foram contadas, mas estão contabilizadas. Seja na experiência ou na amargura. Estão lá dentro de nós, mesmo quando ocultas. São reveladas no silêncio pensativo.
Quantas de cada você teve? Ora, que jogo mais tolo! Executivos no topo do olimpio adoram se impor contando todas as vantagens e façanhas pessoais.
Enfim, os reles outros, seres não elevados pelo deus mercado, não terão os céus na derrota! Mas que conceito mais esdrúxulo!
Quem impôs a realização do sucesso o estrito e estreito princípio da vida? O crescimento! Como haveria mais para todos se não mais sucesso?
E os derrotados? Legados à miséria? Quanta mesquinharia! Serão eles vítimas? Ah, dizem que são sim, e da própria falta de sorte.
Vitória ou derrota, tanto faz. Temos é que fazer. Como humanos, com humanidade, sem dúvida!

Com o passar dos séculos dominamos a matéria-prima e posteriormente nós próprios - e mesmo quando arrediamente fora de nosso controle, sabíamos do erro antes dele explodir entre nós. Eis o egoísmo de nossa espécie em relação a natureza,
O erro, neste método, se revela tardiamente, antes de percebermos que era mera vaidade ante nossos semelhantes para dizermos que ultrapassamos limitações, para dizer que avançamos, para dizer que não há limite para chegarmos.
Mas sempre soubemos desta hipocrisia e assim levamos a vida porque haverá o demorado tempo a permitir a invenção abstrata de subterfúgios e escapes ante a coisa real toda exposta e corroída, quando não explodida.
Assim se encontrou a abstração do trabalho sobre o trabalho quando, já sabidos do que é desacerto, tentamos concertar, mesmo sem concerto, para nos convencer de que sabemos bem o que estamos fazendo independente de nossa mesquinharia ou ignorância.
Este é o mais elevado grau do trabalho de nossa civilização: saber que vai dar errado, saber qual é o erro, usar do tempo que antevê o erro para: fazer acreditar que tudo está verto e convencerem os mortais que estarão melhor assim; e então determinar possíveis culpados quase de forma conspiratória.
Por fim, quando tudo der errado, o recurso é tentar concertar e acreditar seja lá qual for o resultado. Depois vem a melhor parte, logo haverá recompensas ao donos do sistemas e prejuízos aos vitimados da máquina criada pelo seres reconhecidos mais elevados.
Esta é a nossa vitória! Finalmente sabemos como seguir a linha reta que leva estreitamente ao progresso.
E a derrota? Bem, a derrota é o funcionamento deste sistema!

Que seja relegado ao esquecimento toda a vaidade do trabalho! Este que se tornou o grande fim de nossa civilização, a partir da transformação do mundo em nosso mundo para, senão somente, nós mesmos.

quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

A Terra Baldia

"A Terra Baldia" é uma série de escritos que comecei a escrever, sendo que desenvolvo o tema desde o ano passado em diversos textos, baseado na seguinte premissa:

Este mundo que temos é apenas uma possibilidade, que por ser hegemônica é canônica, é canônica porque o poder hegemônico assim determinou que o mundo seguiria sua imagem idealizada e sacralizada independente do custo que todos pagariam. Então é possível um outro mundo. Como é emergencial sua transformação, pois já é clara a não sustentabilidade do sistema e modelo vigente, ela seguiria com a ruptura de tudo que é dado neste mundo. É algo que precisa ir no que aparenta ser a direção contrária ao que temos dado como realidade. Talvez o que pode ser imaginado como o oposto deste mundo é só mais uma possibilidade. Mas esta permite mais liberdade, ou assim tenta permitir, mesmo que não saibamos bem como ela é, sabemos que o que vivemos atualmente não a permite de modo algum.

Fique claro que esta é exatamente a minha visão atual sobre o mundo. No texto tentarei expor o mundo que temos e o qual, baseado em minhas aspirações, podemos ter. Apresentando questionamentos pertinentes, acredito, à todos nós como humanidade ansiosa por um futuro ao invés do fim de tudo.

terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

Cena das coisas jogadas foras

Por entre amontoados de coisas de todos os tipos, consideradas inúteis por aqueles que sempre compram mais, a criança passeava tentado catar pedaços para criar seu brinquedo.
Como ela queria escalar aquelas montanhas de tanta coisa junta! Mas nunca eram sólidas o bastante e eram tão frágeis quanto o sentimento daqueles a despejarem mais e mais objetos para formar um mundo poluído onde seus pais tiravam o sustento.
À noite todos dormiam no barraco e não raro baratas zanzavam perdidas pelos corpos fatigados tentando descansarem deitados no chão. As baratas também passeavam por todo tipo de coisa, de fato não havia algo que elas não tivessem tocado suas patas.
A criança viajava, era um devaneio, ao imaginar o que tais seres já viram dentro daquelas pilhas de tanta coisa que ela jamais poderia ter contato, ao menos se jogasse no meio daqueles montes e virasse mais uma coisa no meio de tantas outras para tudo ficar perdido para sempre e viver eternamente com o que foi esquecido, apesar dela ser tão ignorada quanto tudo que foi jogado fora, sendo somente visitada pelas colegas cascudas.