terça-feira, 23 de agosto de 2011

Cenas depois de um útero semeado

Cena 1
Deitado na cama de olhos para o teto branco você surge do canto de minha visão. Milhares de fios negros, de certa leveza mesmo molhados de suor, soltos ao redor de sua cabeça a esconder sua face. Ainda não vi seus olhos, sei que estão fechados, você permanece em cima de mim cabisbaixa, sei que está rubra, sinto você ofegar. Num ato brusco empina a cabeça jogando todo o negro para traz, vejo seus seios seguirem o movimento de seu tronco e suas costelas expostas revelando uma nudez mais profunda. Lambe seus lábios carmim e vira os olhos hipnotizados diretamente para os meus. E sorri com todos os dentes. Abaixa a cabeça próxima a minha, seus fios envolvem nosso olhar em um túnel de fios com feixes de luz entre eles. Permanece sorrindo com os lábios cada vez mais esticados, eles são carmim, suas bochechas são rubras e o resto de seu rosto é pálido. É tudo vermelho e branco numa sala negra com alguma luz passando pela fresta da janela, revelando aos poucos (é preciso ter pupilas bem dilatadas para ver) a beleza que há: é assim que lhe vejo.

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