terça-feira, 9 de dezembro de 2008

Convite

Vamos fingir que está bom
Fingir que estamos bem
Que vivemos descompromissados
Descartando tanta coisa
Tanta mesmice
Mesmos assim
Assim sempre
Sempre fingindo que vamos

sábado, 6 de dezembro de 2008

Onde se cega

Bloco cilíndrico alvo
Sepulta um zumbi pálido
Vigiado até em distantes lugares
Devendo permanecer fixo como corpo neutro imponente
Enquanto é escuro de podre por dentro
E inacessível de tão frio

Mancha de sangue que jorra dele
Último sinal vital convidativo
Da arte que tenta correr presa entre dois muros
Loucura no ar das salas tortuosos
Chão fétido de poeira cotidiana
Entrem e saiam como mesmos

Imóvel
Não morre
Muito menos vive
Sem exaltar
Indiferente que cala as diferenças
Sem êxito
Esconde o fracasso da futilidade
Em seu próprio nome
Prossegue
Sem êxtase

terça-feira, 4 de novembro de 2008

Atualizando, tirando a poeira, ou a 1ª postagem bimestral

Sim, aqui está empoeirado. Talvez pensem que eu também estou, sendo mais um felizardo ocioso integralmente. Pois bem, na verdade meu coração está agitado e sacudindo a poeira que ficou cravada em alguns neurônios, mas, como já disse o mestre Ovídio, amor e ociosidade andam de mãos bem dadas (Ah, Afrodite !!), porém, não por muito tempo: voltei a pulsar pelas minhas outras paixões de sempre.

Bom, ensaio aqui algo que blogueiros sempre sofrem quando entram em um bom relacionamento fora da BlogSphere (seja amoroso, sexual, profissional ou qual outro houver): suas amadas páginas virtuais começam a sofrer de Desatualizonite Aguda; mas a tal é, felizmente, passageira.

Estava nessa até umas semanas atrás, mas como sou fiel às minhas paixões, acabei por voltar as atividades deixadas de lado (somente por um tempo, claro): leituras, bebedeiras com os amigos (e com a namorada também), conversas sobre música, poesia, metafísica, vida, política, sonhos, esperanças, (des)ilusões e por aí vai... Mas faltava voltar a ativa numa coisa: meus escritos.

Ainda não escrevi nada, apenas idéias, haja vista que tirei a poeira cerebral a poucos dias. Ao menos cá estou a atualizar, escrevendo o que (não) tem ocorrido com minha vida blogueira (ou seja, absolutamente nada !!), como queria voltar aqui mesmo sem um bom escrito e acabei apenas fazer este relato.

Até mais, meus caros leitores e blogueiros.

segunda-feira, 1 de setembro de 2008

C'est la vie; that's what I say...

A vida é curta, é tempo insuficiente para pensá-la duas vezes;
seria grande absurdo viver duas vidas. Mesmo que possível elas nunca ocupariam o mesmo tempo.
Um tempo, uma vida.
Não é seu fim, dito seu belo ciclo de morte e vida,
mas a sua brevidade que arrepia a espinha.
Maior que esse medo, só o mistério do porque ela sempre ressurge renovada a rodar.

O tempo da vida cotidiana é uma terrível onda,
sufocante para quem vai em seu encontro,
sagaz para quem deixa ser engolido.
Há uma chance de encará-la, mas ninguém sabe exatamente quando,
logo pode-se estar vivendo uma vida sem perspectiva de mudança:
só há uma vida a ser vivida, dentre tantas possíveis...
Quem arrisca a liberdade de nadar, tentando sair de sua profundeza, talvez veja o céu novamente
E entenda o que há além dele.

segunda-feira, 11 de agosto de 2008

O Velho

O casaco preto do velho, tecido grosseiro
Conduz o andar seco
De suas pernas mancas dos tropeços vividos
Em abotuaduras detalhes estão cravados
Como em sua face, enrugada de tanto amar
Vai em descompasso
Sentar-se num banco
Rogar a correria da vida preterida
Velho,
Merece o descanso
No tempo que lhe resta

Nessa praça, onde todos param
Em sua silhueta absorta, imóvel
Assenta uma mariposa branca
Uma pomba, por um grã amarelo, suja seu pé
No outro canto do banco ninguém mais
Além de sua juventude
De terno e rosto suado
Espírito de quem ainda corre
Ressurge o vigor em cansados olhos
Músculos secos e ossos quebradiços
Exalam sua última vontade
Na boca trêmula, suspira: o tempo

quarta-feira, 30 de julho de 2008

Viver Impreciso

Postagem para relatar a mudança e obtuário do antigo nome deste blog:

"PENSAS DE OR" De 31 de Dezembro de 2007 à 30 de Julho de 2008; descanse na paz beat.

Agora nasce o "Viver Impreciso"; num turbilhão de imagens, mentes, pessoas, cidades e vivências apaixonantes junto da incrível descoberta que, verdadeiramente, "viver não é preciso".

De resto, tudo segue como sempre foi por aqui: faço o que bem entendo e o que não entendo vira poesia.

quinta-feira, 10 de julho de 2008

Não-lugar

Em um lugar, e em nem um outro
Longe de cabeças girando incompreensíveis
Nossas esperanças se libertam

Sem palavras (nos lábios)
Sem gestos (talvez um beijo)

Não nos apaixonamos por máscaras produzidas em série
Somos olhos sinceros, disfarçados em luzes de postes
Linhas retas, algumas esquinas, calçadas e asfalto
Nada digno de se andar com pés nus

Não há o que dizer (ouço a cidade murmurando)
Não há o que tocar (seus muros são frios)

Aqueles que ficam
Esperando a morte embaixo dos lençóis
Com pipoca e solidão
Até o sol amanhecer em mais um cotidiano
Saiam e admirem a lua
Não a encontre em noites escuras, desesperem-se
Chorem ao vê-la iluminar o que era invisível
E durmam em paz nas férias

sábado, 28 de junho de 2008

Parecer sobre o amor (que se modernizou)

O amor hoje quase nem tem valor,
se comparado ao preço de outras coisas.
Na sociedade vale a pena pagar pelo caro.
Moral, por exemplo, vale tanto que nem sobra troco pro amor,
mas assim você terá uma boa posição.
Amor quase não é considerado,
vale nada se você quiser ter boas aparências.
Pois essa sim, vale algo pra te manter ao menos nos lugares respeitados.
Tá tão desvalorizado que se descarta um aqui
e logo se consegue outro ali
e sem remorso,
afinal a dor passa assim que você pagar a conta do preço das coisas ditas essenciais.
Não tem jeito, lhe disseram que tem pagar à primeira vista.
Você nem vai querer se preocupar como que abandonou as paixões...
Tem que ir em frente, correr atrás dos compromissos,
das coisas que valem a pena quando você será reconhecido,
dizem que até recompensado,
pelo esforço.
Ou talvez tudo seja apenas um subterfúgio para se esquecerem o quanto são covardes ao amar...

( De meados de 2007 e revisto em meados de 2008, só podia ser... )

segunda-feira, 23 de junho de 2008

Um pensamento alheio, bem próximo

"...a cotidianidade seria o principal produto da sociedade dita organizada, ou de consumo dirigido, assim como sua moldura, a modernidade." (Henri Lefèbvre in A vida cotidiana no mundo moderno)

segunda-feira, 16 de junho de 2008

Janelas da percepção mundana

Janela para a paixão (platônica)

Abro portas, fecho-as em seguida
Debruço sobre a janela
Inclino o corpo como quem vai saltar
Mas somente observo a passagem do quotidiano
E atentamente, em cada minúcia
Como a beleza duma moça distante: encanto-me e nada mais
Num monento me perco, pois ela é incógnita
Mas ela também passa sem rumo, ou para meu breve deleite
De que me serve apreciar tantas sutilezas, quando não as entendo ??
E vai passando, deixando-me com o peito atravessado sem esperança

Janela fechada para Platão

Mas, instante após sumir de minha vida, sonho algo real
Ela abre a porta de minha morada em sua cara limpa
Assim é tão bela
Despe-se, sem hesitar, numa admirável nudez
Que, sem temor, amo
Fixamente em olhos
Sinceramente
Envolventes

sexta-feira, 30 de maio de 2008

Margeando o Maelstrom

Há tempos não me vem a poesia
Racionalmente não vejo sua face
Meu coração está caducando
Poucos chegam a minha porta para uma visita
Nunca mais outrem adentrou nesta morada
Onde a sina é seguir minha via e mergulhar
Ao ouvir e ler outras vidas
Interiormente já estou à beira
Enquanto retomo mais um pouco de fôlego
Admiro tudo o que fui e a ânsia de ser
Encostado no conforto de um batente
No artístico esforço de se apaixonar

sábado, 17 de maio de 2008

O artifício de escrever

Escrever; escrever, escrever. Mostra-se inútil, mas não fútil.
Escrever é trabalhoso, horas demasiado, horas penoso, nem sempre preciso, sempre um (des)prazer. Seria melhor se as palavras saíssem de minha cabeça, direto pra quem as queira ler.
Categorizar é o mais terrível: vai pro blog ou deixo na pasta de textos impublicados ou impublicáveis ??. Uma autopunição burocrática por não ser bom com as palavras. Pra dizer que realmente me dou com elas tenho que fazer esse trabalho hercúleo. Sísifo ri ironicamente de minha sina, mas só até sentir as dores nas costas; dor que compartilho porque isso além de inútil me deixa corcunda. Agora ri o monge copista, mas só até se lembrar de sua artrite especialmente inflamada numa manhã fria, e também sei que dor é essa.
E depois quero saber opiniões de gente que nem leu!! Ou de quem nem imagina do esforço que foi, falo das dores que senti e vivi, pra depois me saírem em palavras mal expressadas. O veredicto, no qual me julgo como se já soubesse a opinião dos outros sem eles me conhecerem, é: escrevendo assim aonde quer chegar ?? (claro que tinha que sair como um questionamento). Besteira que tenho abandonado: julgar não é virtude, auto-julgamento é burrice.
Como não sei bem o que fazer ou como seguir com este hábito de escrever, o que o faz inútil, acabo mantendo-o sem grandes ambições. Mas tem amigos que me dizem que melhorei a escrita e isso me motiva, nada mais; salvo raras exceções poéticas em que sinto que tenho, não sei bem porque (talvez saiba, mas tenho que manter o “mistério”, e tenho que manter o “oculto” em mim), expressar com palavras nem sempre escritas, mas tem saído coisas impressas. Acho que é porque não sei fazer música e o desenho já até abandonei, disso me arrependo muito. De continuar escrevendo ainda não.
Castigo as palavras, sim. Me perdoem. Não as amo, não as odeio. São minhas muletas, como disse Schopenhauer. Mas não as são para meus pensamentos, são para não me arrastar nessa passagem pela vida.


P.S.: Hmmmm.... O texto acabou na pasta do blog, evidente, já que foi publicado. Mas não fiz esse Post Scriptum pra lhes informar isso, mas pra lhes confessar, e recomendar, que tudo foi escrito ao som o David Bowie na sua fase Berlim, um bom som pra escrever quando ouvido alto, e não é a primeira vez que faço isso.

domingo, 11 de maio de 2008

Despertar

Era a adolescência brotando nas espinhas
e a paixão no coração
enfiando o pé na lama, graciosamente.
Nada inocente nos sonhos com rosas
vermelhas de sangue deflorado.
O gozo era puro de prazer.
Ofegar era o prêmio da intensidade.
Medo é pra se aprender sobre insanidade,
quando tudo se esvai; cedo ou tarde algo vai.
Inexperiência expressa nos olhos é a timidez de mergulhar no outro.
Quando se descobre quem se é e quem se ama, o tudo é nada.
E se dorme em si mesmo
prá despertar o amor.

quarta-feira, 30 de abril de 2008

30 de abril

Se soubesse exatamente, se pudesse descrever sem incertezas esse sentimento de esperar pelo Sol saberia certamente quem sou; precisamente não seria mais contraditório, estaria decidido a sentir racionalmente e dormir toda noite prá sonhar confiante. Não seria quem sou... Não haveria mistério que eu mesmo invento pr'essa vida, o vento outonal de fins de abril não me faria nostálgico e muito menos apreciaria todo o azul, branco, amarelo, laranja e rosa do Céu, nem sua limpidez estelar em que briha a Lua. Eu não escreveria como sou.

quarta-feira, 16 de abril de 2008

O que mais direi sobre o Amor ?? (E a Paixão ??)

Uma década pra voltar quatro
Uma vez sonhei, hoje grito: Liberdade, liberdade !!
Com a ciência de que não há razão pra amar
No sonho de amar como bem entendi
Paradoxal como vivi: distraído na contemplação me esqueci de compreender


O fato é que por mais terrível que seja expressar o Amor em versos livres eu não pretendo mais divagar sobre o que há de interior e fechado, até mesmo sepultado, em nós, isso já fiz por uma década (variando em intervalos que não havia nada a sentir ou dizer).
Hoje seria interessante ver como essa energia se dissipa em desejos, afagos, dores, prazeres, choros, raivas, desesperos, suicídios, se alimenta mais e mais quando recíproca. Não quero mais saber como ele se dá da forma mais romântica possível (prá isso você pode ler Florbela Espanca).
Entender como isso vai se fundindo ao quotidiano enquanto tenta ser extraordinário, como ele luta pra viver consumindo todos outros sentidos.
Nunca mais separá-lo da Paixão. Prazeres alimentados por perfumes, lambidas, chupadas, olhos nos olhos ou nas formas curvilíneas, tato, contato, penetração, gemidos. Fome de volúpia que também consome todos os sentidos.
Não há motivo pra separá-los. Ambos consomem, mas quando juntos fazem um banquete interminável.
Ao amor romântico foram feitos os sonetos. Agora é hora da liberdade de quando amei do meu modo. Daí porque não escrever em versos.
Mas há sempre questões não resolvidas. Essas não lhes conto, pois as respostas são só minhas desde que as procuro em mim.
Daí o porquê ainda escrevo poemas sobre o Amor e como meu tentou ser ideal, e assim se acorrentou, ele tanta ser livre nos versos.


A vida não é escola
Não há lição no amor
Mas se aprende com a dor
Pra se distrair no prazer

sábado, 12 de abril de 2008

"Bálsamo"

"Amar por amar nunca foi uma verdade.
Mas não esperava nada além de sentir... Não minto !!
Sentir e afirmar que amo !!
Sentir é pouco para o amor."


Do meu modo amei
Já não recordo tantos sonhos que pretendia viver
Quando ofegava medroso diante a fatalidade
Do mundo que me impõe como sentir
Amei, sim amei, amei muito
Além do mero sentir
Além de uma atração vulgar
Mas convencido de ser humano, caí em mentiras
Fraquejei ao espancar o muro
Tudo o que seria, o que nunca aconteceu
Fica na memória pesando cada palavra
Sufocando a cada lembrança
Não é pra isso que se ama
Não se sabe porque se ama !!
Desisto hoje disso tudo
Antes jamais desistiria

As dores são cada vez mais suportáveis
Mesmo que intensificadas em uma década
Não pedi pra amadurecer
E quando percebi já estava carregando arqueado as pedras que me jogaram
Amaldiçoei cada um que desejava sutilmente minha nulidade
Mas derrotados, todos acabam
Caídos num solo infértil
Regamos a teimosia com arrependimentos liquefeitos
Implorando pra que algum bálsamo milagrosamente brotasse

Hoje sento calmo e espreguiço o corpo em melancolia
O pesar da consciência entorta o pescoço a ponto de quebrá-lo
Nesse ato inevitável, sem sentido algum, volto ao que assim o foi
E somente levanto sem ambição
Para pensar mais e mais na fixação do andar num chão há muito compactado
Nem tudo é como quero, mas por milagre uma erva sempre nasce
Quantas cultivei com paixão
Que ao menor sinal de seca desesperava para dá-las mais vida
Era pra ser feliz assim
Numa eternidade fui, noutra tudo murchou

Sentimentos, todos encontraram meu coração
Desejos, nunca se apagaram
Surpresas vêem quando ouso cruzar aquela esquina
E vão nos giros do mundo
Agonias preenchem o vazio dos instantes
Amo todas as pessoas interessantes
Paixões se consomem em semanas
Mas estou tranqüilo
Vivendo a dádiva do presente intensificado pelo envelhecido e amargo passado
Enquanto o coração permanece cativo em minhas sombras

quarta-feira, 9 de abril de 2008

Dois poemas, na madrugada mais uma vez, sobre poesia

Sobre o Poeta

A Lágrima sutil
Pela face passa
Até os sulcos da palma
Onde assume várias formas.
O Poeta a admira
E imagina confissões passadas.
Enquanto divaga ela se esvai;
O Poeta não sabe como mantê-la,
Resta imaginá-la

( Dezembro de 2006 )

- - -

Sobre o Eu de forma poética

Flutuante, mas não expansível como o ar.
Quando fixo pés na terra penetro até sua parte mais dura.
Olho com paixão os céus que traz o vento nostálgico.
Quero estar lá mais uma vez ( sempre é uma palavra difícil ).
Será que os amantes sentiram isso ??
"Faça-me flutuar" é minha oração.
Será que ouviram ??
Mas o coração pertence ao que insiste em continuar aqui.
Eu, plantado sem dar frutos
E o vento não me levará nada.
Pela eternidade ?? ( cabisbaixo coço a cabeça )
Não, pela existência de sentimentos sepultados
Sem nunca ( engulo seco ) descansarem em paz.

quarta-feira, 2 de abril de 2008

Travessia

Passo por uma porta me arrastando
Deixo pra trás muita coisa que não queria
Diante de uma barreira sempre invisível e atravessadiça
Que impede que se leve toda uma existência realizada
O inconsciente passa livremente, também os devaneios e ecos passados
Sei que outra porta será trancada, ouço o som lento e dramático
Rangendo e BLAM !!
Sigo com o olhar para trás, querendo abrir mais e mais portas
Correndo feito um insano pra dar de cara com mais um acesso à algo que não sei
Acelero, passo correndo sem saber ao certo o que era
E dou de cara com uma barreira intransponível !!
Despenco ao chão
Tenho que lembrar
Tenho que saber
Tenho que acordar
Caio em sonho só por sonhar
Sigo. Mais um caminho se revelou

quarta-feira, 26 de março de 2008

Dois poeminhas novos que acabei de escrever porque deu na telha de fazer isso de madrugada

Amargura

Amor, me dá dor de cabeça.
Fico, sim, muito preocupado como se simples momento entraria ou não para a eternidade.
Percebe-se que não manjo nada de eternidade, talvez leve varias reencarnações pruma noção do que é tempo sem que eu assuste.
Vai seguindo porque não sei quando vou.
Acho que sou lento, mas quando menos percebo pareço mais ágil que nunca.
Então vá... Que se for destino, nos alcançamos.
Sabe, pensava que era seguro entregar o coração e confiar, mas é tão arriscado quanto um vício
Assim que entendi como é estar perdido e espairecer numa bobagem de gosto amargo,
outras coisas perderam o sabor desse modo.
Amor, amargo é um "karma"

- - -

Margem

Veja, nadando no rio seguindo o fluxo um homem de terno meio distraído meio atento, acho que sabe o que fazer, seja como for...
No sentido oposto vem um cara nú nadando abraçando uma moça nua,
se esforçam tanto, dá pra ver cada músculo, cada respiração, ritmo, movimento que vem duma energia sem fim, e parecem um só.
Deste lado, na margem, tem um ou outro, na verdade são bons amigos, que se sentam e admiram tanta gente.
Às vezes, não raramente, a gente escorrega, e tenta não se afogar até um amigo marginal nos resgatar.
O ar da margem é tragável e a água que aqui corre é um mistério só, assim fazemos arte disso
Sempre respiramos e bebemos esses elementos
Nos deixam embriagados, mas também lúcidos, despertam o amor e o ódio, tantos males e virtudes...
Assim vivemos... (não é tão simples como parece)
"À margem !!" Bebamos.

sexta-feira, 14 de março de 2008

Noites

(Dedicado à todos que vivem o teatro como sonho real por dentro)

Seríamos mais tranqüilos se dormíssemos toda noite, ao invés de resistirmos e ficarmos acordados.
Dormiríamos para sonharmos guiados por Morpheus.
Mas preferimos viver o sonho, desafiando deuses & encarando nossas sombras à qualquer momento.
Durante o dia parecemos distraídos, mas estamos bem acordados para ver os devaneios que nenhum outro percebe.

Nada é impossível.
Nada é distante.
Não se podem abrir olhos que não foram fechados.
Não se pode acordar enquanto não se dorme.
Tudo é vivido de olhos abertos e coração pulsante.
Tudo é sonho e realidade.
Vivemos tudo o que há para ser vivido,
E sonhamos.

domingo, 17 de fevereiro de 2008

Tirando a poeira

Quase um mês que não posto nada aqui... Mas não deixei de pensar no que escrever. Rascunhei umas coisas pra pôr aqui, mas não senti que ia ser algo interessante e, por imposição minha, acabaram saindo pensamentos desprezíveis ou malditos (antes fossem malditos como os poemas de Baudelaire, mas não...) sei lá... Esse “sei lá” resume esse profundo momento intelectual ocioso.
Ah sim, o título da postagem é o que estou fazendo: escrevendo aqui só pra tirar a poeira. Sem pretensões dessa vez. Só pensar levemente sobre a vida.

Enfim chego a última semana de férias bem tranqüilas e relaxantes. Precisava desse tempo mais que imaginava, por isso acabei nem pensando num suposto projeto pra TCC... “Ai! Que preguiça...” O bordão mais infame de nossa literatura mostra o ritmo ararense que estou “curtindo”.

Fora a ociosidade teve umas viagens pra Rio Claro (se é que ir até uma cidade grudada nesta é viajar) onde conheci um poeta e um artista plástico que é um o maior colecionador de arte postal nesse país (que pra variara nem sabe disso ou da existência dessa arte curiosa) e aqui vai a comunidade dele, no Orkut: http://www.orkut.com/Community.aspx?cmm=11898498
Sechi e Thiago, muito prazer em conhecê-los num mundo que falta gente idiossincrática.
Semanas depois passei o carnaval no Guarujá, com mais 5 amigos, e a única semelhança com a mesma viajem do ano passado para aí. Dessa vez menos praia & mar e mais andanças pelas ruas da cidade na madrugada, mais rodinhas de violão na praia em baixo de chuva, mais conhaques, cervejas & caipirinhas e mais gente que encontramos por acaso e acabamos conversando como velhos amigos e a consagração definitiva (já é lendário e tradicional) dos almojantas, praticamente “a feast of friends” !!

Fora as viagens, saídas nos fins-de-semana e durante semana e bebedeiras, volta à locadora depois de mais de um ano (acabei encontrando umas películas que valem a pena serem assistidas, na verdade muitas delas ainda ano assisti porque não queria pagar os olhos da cara pra ver lançamento... E também sou paciente, afinal será muito difícil um filme sumir de todas as locadoras ao mesmo tempo!!).
Agora às vésperas da ultima semana teve a formatura de um grande amigo, no último sábado. À ele desejo todo o sucesso em sua carreira de adevogado (brincadeira Marinho, mas o desejo é sincero).
E a grande novidade: comecei minha vida no teatro !! Mas isso ainda será assunto pra outro post.

Abraços a todos navegantes que aqui passaram e bom retorno à suas vidas pós-férias !!

PS: Tudo escrito ao som de Loaded, do Velvet e editado ao som do The Stooges.

segunda-feira, 21 de janeiro de 2008

Como não é uma ficção, não tem título

Estou em casa calmo, digo, entediado imaginando o que pode haver lá fora. Abro a janela do quarto me distraindo com a luz vermelha em cima dum prédio que quando criança sonhava estar cercado, mas hoje observo a novidade surpreso (penso que diabos um prédio por aqui). Então olho o asfalto, pois o que há de importante nesse ainda esqueleto de concreto ?? Nada... Mas o asfalto está quase seco pelo vento frio e não tenho meu cenário urbano favorito, os postes estão iluminando inutilmente uma tela preta... Pobres desses corcundas solitários que não agüentam o peso da luz e se curvam um pouco tentando ser úteis mostrando a rua pra quem quiser passar.

Acho que saí da linha, era pra escrever sobre os amantes que se esquentam debaixo da garoa fina, mas não tem garoa, tem a matéria escura fria e seca que vai esquentar só com o sol de amanhã se não nublar. Sem garoa, sem inspiração pra inventar algo batido que, em verdade, está escondido no coração de um cara que acredita que isso era coisa de adolescente... Cara chato que pensa assim só porque está solitário sem seu quarto (ironicamente um cenário rotulado adolescente).

Já que não tem volta (melhor, já que tenho que imaginar algo como dois amores na rua nesse frio acalentados pelo amor, ou paixão ou algo assim), como poderia desenvolver uma boa história pra esse casal ?? Algo não clichê então, nada de reconciliação, nada de despedidas, nada dos instantes antes de fugirem de casa e nada, diria absolutamente sem chance, de coisas pervertidas como irmãos que se amam (ou tem apenas desejo um pelo outro, mas confundem tudo com o amor familiar, sei lá) ou coisa impossível graças a hipocrisia, talvez até mesmo dos amantes (poderia ter como cenário uma cidadezinha) e outros problemas que podem dar uma boa novela... Acho que não há nada o que se criar pra esse amantes, já inventaram tudo. Deve faltar viver essas aventuras, então deixo que eles vivam como quiserem qualquer roteiro inovador ou só róliudiano.

Nossa !! É isso cara !! Genial !! Veja, você é o primeiro a dar liberdade total para duas personagens para que escolham a história que quiserem !! UAU !!
Hmmm... Não não !! Isso tudo mundo (raros caso que contrariam a regra) já faz na vida real !! Não tenho mérito algum, ainda mais que matei essa ficção (poderia ser bela, imagino) usando o cotidiano imprescindível !! Sem destino arranjado ou provação ou lições ou premiação da crítica. Acabei por fazer um mundo fechado ser jogado à existência !! Acho que tive uma atitude : apunhalei um devaneio romântico com a afiada realidade !!

Não há volta para o que pretendia, mas não é um ponto final !! Não é mais uma ficção, nem realidade !! Quem sabe seja imaginação ou imagem em ação... Algo que sai de mim e se joga no mundo.

Infeliz asfalto seco que não resiste ao congelante vento !! Por que não choves agora minha amiga ?? Por que estes terrenos estão tão valorizados hoje acabando com minha visão da cidade e seu horizonte quando constroem mais e mais andares ?? Ah, se existisse uma história onde tudo isso fosse respondido !!

terça-feira, 15 de janeiro de 2008

O Interior (em demorada construção)

Esboço para "Apresentação"

Uma cidade pequena, não adianta querer vê-la com outros olhos
Revela sua pequenez de todos seus ângulos
Mesmo com a intenção, orgulho na verdade, de seus habitantes de fazê-la algo além, como que para longe
Pois nem eles são hipócritas, talvez idiotas, de quererem ela grande
Pequena do jeito mais simples possível
Mesmo com suas atmosfera, forçadamente, enigmática
Ou a pretensão de ser metáfora para alma humana, afinal algumas são crentes demais que são um rebanho
Ovelhas no tédio da grama de cada dia, ou de cada missa

Cada um de seus cidadãos têm medo de viverem uma mentira
Por isso não se entregam à paixão, preferem crer no amor
Não que seja uma verdade à qualquer um que ouse o invocar, mas crêem que é infinitamente nobre que o dito efêmero fogo
Mas vão em frente com o nome dele, seguem formando sua família depois de um bem remunerado bom emprego
Assim é, para eles, o alicerce... Pena que todos acabam se acomodando à sombra da árvore frutífera do quintal
E lá ficam pra sempre... Dizendo amém à essa interminável eternidade longe do círculo de outras existências



"Noites Interiores" (ou ...Interioranas ou ...do Interior) - Fragmentos da parte "Desilusão"

(Garotas do Interior, versão revisada)

Há algum silêncio no interior das garotas
Como camponesas ao vislumbre
Dum príncipe com um cavalo
Algo nos olhares profundos
Que se esconde ao menor toque
Suspiros ocultam mistérios
Cujo prazer é velado
Olhares mistificadores
Paralisantes
Impenetráveis
Destruidores de simples realidades
Imersos em devaneios
Emersos das tradições familiares

(Réquiem das noites)

Não há noites intermináveis
Somente o silêncio das ruas
Não há diversão
Somente prudência
Não há o que se revelar ao luar
Muito menos as fantasias que ninguém ousa
Não nesta noite!
Não estão permitidos os gemidos
Vela-se os prazeres
Em todo o silêncio

(Sem destino)

Eles e elas
Elas ou eles
Todos queriam amar
Na distração de mais um trago
Na ilusão de alguma redenção
Sempre um sonho longe de casa sem rumo
Mas nunca haverá liberdade
Em meio à insanidade (da vida familiar)

domingo, 6 de janeiro de 2008

A tentativa de assassinato do Domingo pela Televisão

Maldita televisão, graças a ela os domingos nunca mais foram os mesmos.
Não conseguiu matar o domingo, mas o amaldiçoou com os programas de auditório, percebe-se isso só de ver um sorriso tolo, longe de ser uma verdadeira expressão, de quem vai ganhar um dinheiro transcendendo o estúdio para estampar-se mecanicamente naqueles que assistem passivamente. De fato, isso foi a mais inútil inovação televisiva.
Mas além dessa novidade a verdade é ela quem contribui para a mesmice dominical. Mesmo assim até penso que talvez nem somente ela seja culpada quando milhares resolvem colar a bunda num acento e assistir tudo o que se pode ver ao vivo lá fora da sala: qualquer competição esportiva, digo futebol, ou uma celebração religiosa, quero dizer missa... Considerando que tais coisas também têm seu crédito no deprimente dia sagrado de descanso, mas acho que antes de serem televisadas (não televisionadas) deviam ser mais interessantes.
A sagacidade daqueles que sacaram isso é tão incrível que logo a televisão passou a te levar a qualquer lugar do planeta ou do centro da sua cidade sem você ter que se arriscar nas ruas, o que não convém a um bom cidadão cristão. Também lhe dão toda aquela adrenalina que suas supra-renais nunca expeliram nas corridas de Formula 1 ou qualquer esporte radical já televisado... Aí está a grande tirada que lhes falei: o ócio em potencial do domingo, ou sua monotonia, é a deixa para certas mentes lucrativas televisarem tudo o que poderia ser vivido intensamente no que viria ser um extraordinário dia sagrado de descanso, mas hoje deprimente quase moribundo.

"Whats's pensas?"

quinta-feira, 3 de janeiro de 2008

Aurora de 2008

O ano de 2007, o ano das provações, infortúnios, mudanças, desejo de experimentar novas sensações, de adquirir vícios, de não encontrar respostas, especular sobre mim de cabeça erguida pra seguir em frente e outras horas abaixada refletindo ou mergulhando na depressão.
Não que nos anos anteriores não fosse assim, mas em 2007 foi tudo mais intenso além da força que pensei que tinha, logo, em muitos momentos apenas fiquei paralisado, qualquer ação que tomava parecia inútil e muitas foram. Experimentei certos limites que não sei a sua origem, enquanto outros estão muito claros sua existência.
Foi o ano de ir contra quem sou, foi o ano de descobrir que não sou completo ou fixo como um Deus. Sou humano, flexível, vulnerável, em constante mudança, não há como definir o que sou, não sou feito, sou até minha morte e além dela um ser em formação.

Finda 2007.

A passagem para 2008 foi a melhor de minha vida. Passei-a fora de casa junto com os amigos, como há muitos anos desejava e, até misteriosamente, teve uma cena simbólica. Refiro-me a um amigo cuja namorada terminou com ele no dia 31 de dezembro de 2006 em sua formatura; um ano depois lá estava ele queimando as fotos dele e da namorada da mesma data. Interpreto como algo que incomodava a alma e lá permanecia agarrado e enfim diria que ele se libertou dessa última lembrança.

Nasce 2008.

No lugar que estávamos pudemos ver uma parte da cidade e sua explosão de fogos... O que já não é mais possível fazer de casa quando a cidade cresce e a altura das casas também.
Horas depois do Nascimento estamos eu e alguns amigos conversando sobre Deus & Satã, Céu & Inferno sob um belo Luar, tentativas de dançar um tango ou forró, cantoria os clássicos bregas das rádios... Efeitos do álcool mais a alegria da virada. Até o momento de estar presente na Aurora de 2008 com os amados amigos e amigas, cantando uns rocks e apreciando um havano (gracias Cirão !!) no “cartão postal” de Araras.

A todos que participaram desse momento e aqueles que estavam distantes desejo um Feliz 2008 e que seja um ano incrível, como a virada que vivenciei.